De como parei de fumar, sem medicamentos, sem ganhar peso e sem trocar um vício pelo outro.



Primeiro de tudo, parar de fumar é uma decisão própria, assim como começar.
Há muita pressão, geralmente de alguns amigos e familiares, para que uma pessoa pare de fumar. Já as influências que levam uma pessoa a começar a fumar podem não ser tão claras e óbvias.
É engraçado pensar como as coisas mudaram desde quando os cigarros (estes como conhecemos hoje em caixas de 20) começaram a ser comercializados. Era uma vez quando os cigarros eram recomendados por médicos. Você já assistiu algum comercial como este abaixo, onde médicos recomendavam fumar?


Um tempo depois disso, os comerciais tentavam associar a imagem de quem fuma com quem tem um espírito aventureiro, ou com a sensação de liberdade, como os famosos comerciais do “cowboy da Malboro”:


Hoje, há toda uma geração que nunca chegou a ver um comercial de cigarro. Porém, ele continua ativo em filmes, clipes de músicas e ainda é sustentado como um símbolo dos “cool kids”. Ele ainda tem forte influência, embora mascarada, sobre as pessoas, principalmente os adolescentes e jovens adultos. Essa mudança de como o cigarro é visto pela sociedade também acompanhou descobertas científicas sobre os efeitos do mesmo. Não há como negar todos os estudos longitudinais feitos sobre os efeitos do cigarro e a ligação deste com diversas doenças. As pessoas têm informação sobre os reais riscos do cigarro, então por quê elas começam? E por que elas param? Bom, vou dividir minha experiência em tópicos, assim você pode escolher o que te interessa e não fica tão longo e boring ler tudo, se assim preferir.

De como eu comecei.

Eu comecei a fumar com exatamente 18 anos. Foi na semana que completei, na verdade. Parece algo um tanto quanto simbólico, não é? Um grito de liberdade, eu me mando, agora eu tomo minhas próprias decisões e assumo responsabilidade por elas. Claro, não foi planejado. Estava numa balada com uma amiga e lá pelas tantas fomos ao banheiro. Era no tempo que ainda era permitido fumar em lugares fechados e públicos – caracas, estou muito entregando minha idade neste post, whatever – então no banheiro ela acendeu um cigarro e perguntou casualmente: - Queres? (sim eu sou do sul, soou tipo: queis? Rsrs) E eu simplesmente pensei: Por que não? Mandei um pensativo e demorado: - Tá, pode ser. Eu já tinha dito não várias vezes e de fato o cheiro me incomodava muito. Não sei o que me deu aquele dia. Com a minha resposta torta, ela me olhou e perguntou: - Tá, não entendi, já fumasse antes? Sabes como tragar? Eu respondi sinceramente que não e então ela me explicou como. Não deu muito certo, me afoguei, tossi por minutos, o gosto daquela p**** era horrível e nem terminei um cigarro inteiro. Naquela noite não tentei mais e pensei que nunca mais ia colocar aquilo na boca, que nojo! Mas em uma outra festa me ofereceram um outro, de menta, me dizendo que era gostoso. Pensei por um tempo e cheguei a brilhante conclusão de que: se há milhões de pessoas viciadas neste negócio, não pode ser tão ruim assim. Deve ter algo de bom que eu ainda não descobri, eu é que não sei fumar direito ainda e me afoguei a última vez. Vamos tentar de novo.
E assim eu tentei novamente, continuei, e tudo começou.

De como eu continuei.

No começo era só na balada, e por muito tempo, talvez todo o primeiro ano, eu só tenha fumado cigarros de sabor. Curtia bastante o barato do Gudang Garam, cara, esse cigarro não é normal! Rsrs
E nos primeiros meses era algo bem casual. Eu não comprava, aceitava dos amigos quando eles ofereciam. Mas essa situação ficou chata... comecei a pensar: putz, esses cigarros não são baratos e eu fico “chupinhando”. Vou começar a trazer cigarro pra balada pra dividir com os amigos também. E assim, passei a fumar em casa as vezes também, já que sempre sobrava algo da balada.
Nesta época também “sai do armário” e contei pra minha mãe e agora fumava na frente da minha família. Nada muito bem aceito, mas eu era maior de idade e proibições não iriam ajudar. Com o passar do tempo o número de cigarros aumentou e, embora eu preferisse o cigarro de sabor, eu já aceitava os light normal, os filtro vermelho ainda eram muito fortes, mas eventualmente, na falta de outro, serviam também. Chegou um ponto que eu fumava todos os dias alguns cigarros (o normal porque o de sabor era muito enjoado) e nas baladas ia uma carteira fácil!
Uma coisa que percebi é que fumar é muito um hábito também. O que eu quero dizer com isso é que as vezes eu nem queria fumar, mas fazia por hábito. Por exemplo, uma amiga dizia, ah vamos lá fora fumar? Eu nem tava afim, mas pensava: Bom, nem tô afim de fumar, mas já damos uma volta, tá calor aqui dentro, dá pra conversar melhor... Vamos! Ou em alguma situação a pessoa que estava comigo conversando acendia um cigarro e perguntava: quer um? E eu, intretida na conversa, respondia no automático: quero, obrigada! E no meio do cigarro, eu decidia apagar, pois nem estava tão afim.
Claro, existem os casos opostos a esse que você faz qualquer coisa por um cigarro e esta na fissura. Mas outras vezes não, fuma por fumar.

De como eu decidi TENTAR parar.

A decisão de parar tem que ser da pessoa, por mais pressões que a pessoa esteja sofrendo, se a decisão não for dela, não vai dar certo. Você pode ter um bom motivo pra parar, uma gestação, uma doença... porém se você não decidir, irá voltar ou ficar dando escapadinhas. Mesmo que você tenha um motivo é preciso assumir a sua decisão, por exemplo: decidi parar de fumar pois não é bom para o bebê. Ao contrário de: tenho que parar de fumar por causa do bebê. Decida! Em última análise é uma escolha e não uma obrigação. Quando eu tentei parar de fumar no começo as coisas não deram muito certo, pois não assumi como uma decisão, mas sim como uma imposição do meu namorado que era um tremendo chato, rídiculo, careta (todos adjetivos que usava na época para justificar o fato de ele me pedir pra parar de fumar). Resumindo, o fato de eu fumar o incomodava profundamente e eu já havia reduzido bastante, estava quase como na fase onde só fumava nas baladas, mas pra ele não era o suficiente. Uma noite, depois de uma discussão muito séria, ele lançou: - Bom, a decisão é sua, mas eu com certeza não quero conviver com um fumante ou constituir uma família com uma pessoa que fuma. Não suporto e não vejo por que deveria suportar. O problema maior é que você nem admite que é viciada... blablabla. O resto eu não lembro, mas estas palavras me marcaram muito. Primeiro eu pensei: Ai, que idiota, está fazendo o joguinho do “escolha eu ou o cigarro”, que crianção. E depois o que ficou me irritando foi a frase: você é viciada e não reconhece. Fiquei puta. Fiquei pensando: velho, eu paro quando eu quiser! Só que não quero. Estou super bem, gosto, fumo pouco, não é o bastante pra afetar minha saúde. É como eu chegar pra uma pessoa e dizer: Mano, você é viciado em macarrão! E se você não é, prova, nunca mais come macarrão!
De fato não achava que fumar lá uma vez ou outra fosse me causar problemas de saúde e eu concordava em fumar pouco, mas não queria ter taboos na minha vida. Eu queria poder escolher: isso eu faço pouco porque gosto, mas faz mal. Isso eu faço regular porque gosto e é tranquilo, ou porque não gosto mas me faz bem. E aquilo eu não faço porque EU NÃO GOSTO. O que não era o caso. O problema é que nesta primeira “tentativa” de parar de fumar eu percebi que a não ser que você tenha regras muito específicas, não vai funcionar “fumar raramente”. Sem perceper a frequencia aumenta, pois você não está contando e anotando cada cigarro que fuma. Então fica nesse discurso de: ah, fumo muito raramente. Porém, se for contar de fato, sua opinião sobre quanto de fato você fuma seria outra.
Enfim, depois desta discussão com meu namorado, SEM DIZER A NINGUÉM, eu decidi me testar e ver se de fato eu conseguia parar de fumar, fiquei com medo que de fato eu era “uma viciada”.
Mas falo disso como uma tentativa, pois até o momento eu não havia assumido a decisão como minha. Depois de entender que de fato não havia nada que o cigarro me oferecia que eu não podia achar em outros recursos, que eu analisei de fato tudo o que eu gostava no cigarro e parei eu ficar me escondendo atrás de clichês no tipo “eu não paro porque eu não quero, eu gosto de fumar” é que eu pude escolher, decidir se fumar era algo que valia a pena.

Do processo de finalmente parar.

Foi assim, decidi parar por um mês. Ver se eu conseguia. De seco.
Foi fácil? NÃO. Por isso grifei o processo. Tem começo, meio e fim.
Tem uma receita mágica? NÃO. Não é bolo. É uma decisão para sua vida.
O que eu sabia por histórias de conhecidos?
1)      A maioria engordava muito, pois quando dava aquela vontade “incontrolável” de fumar elas, sem perceber, comiam, colocavam algo na boca, como um substituto.
2)      Outras pessoas substituíam um vício por outro. Jogos para ocupar a mente e coisas do tipo.
3)      Outras ficavam um tempão com adesivos e outros medicamentos para no final voltarem a fumar. Pois, como vamos conversar aqui a respeito, viciar-se em cigarro não se resume a nicotina. Não é apenas a nicotina que te prende ao cigarro, e de fato, talvez ela seja o menor dos fatos.

Como mencionei antes, eu não contei a ninguém que havia decidido tentar parar. Isso me ajudou muito, pois não suporto as pessoas querendo me controlar por mim: - Mas você não disse que ia parar????
Arrrrrrg, FY.
Vou fazer uma listinha do que me ajudou neste primeiro mês, mas ficar mais fácil de visualizar.

a) não contei a ninguém
b) toda vez que me via na frente da geladeira ou em uma lanchonete pensando, pensando, pensando no que eu ia comer, e me dava conta que era no momento exato depois de ter pensado em fumar e que de fato eu nem com fome estava, eu saia e me forçava a tomar 1 copo de água. Inteiro. Sem parar. E gente, não gosto de água, tenho uma tremenda dificuldade de tomar a quantidade suficiente por dia. Então isso era uma super punição pra mim. Tomava um copo de água todo e voltava as minhas atividades. A regra era: se você chegou a ir até a geladeira/lanchonete vai tomar um copo de água, sem desculpas. Então, surpreendentemente rápido, eu pensava eu cigarro – dai pensava que eu não podia – dai pensava: o que tem pra comer? - dai pensava, ai não, não quero tomar um copo de água – dai decidia nem sair do meu lugar! Hahaha
Você pode escolher outra coisa que não goste de fazer, pra mim a água foi perfeito.
Depois de um tempo você pensa menos em fumar e também nem pensa mais tanto em comer, consequentemente.
c)trident, halls e similares ajudam a manter algo na boca e esquecer o cigarro.
d) tentava perceber meu mal humor e não descontar nas pessoas ao meu redor. Tentava fazer outras coisas que eu gostava, coisas variadas, pra compensar.

O primeiro mês terminou. Consegui. Estava de muito mal humor. Surpreendentemente não estava satisfeita. Pensei, consegui, agora posso fumar de novo. Foi então que o verdadeiro processo de parar começou. Me perguntei: poxa, fiquei sem fumar um mês, não pode ser a nicotina falando. Por que eu quero tanto voltar a fumar?

Concluções que cheguei:
        De alguma maneira, fumar me acalma
        Gosto de tirar uma folga na balada pra fumar, é um momento que conheço muita gente
        De maneira geral, os fumantes parecem ser mais “de boa” e melhores pra socializar

PÁRA TUDO!

Os fumantes são “melhores pra socializar” do que os não-fumantes? De onde eu tirei isso? Isso me fez pensar em toda essa influência silenciosa que temos em torno do ato de fumar. Foi ai que tive que pensar sinceramente e refletir por quê eu comecei?

Depois de muita negação, finalmente percebi e assumi pra mim mesmo que eu pensava que o grupo que fumava era os “cool kids”. Eram descolados, eu queria ser descolada, fazer minhas próprias escolhas. Na verdade, eu estava tentando romper com a imagem de beata que tinha até os 16, quase 17 anos. Claro gente, isso não era consciente pra mim, não era programado, mas analisando bem minha situação, isso ficou bem aparente. Fumar representava uma liberdade dos conceitos caretas que tinham me definido por tanto tempo. Depois que percebi isso consegui observar que não precisava mais estar no grupo dos fumantes pra me autoafirmar, esta fase já era.

            Nunca quiz fumar “muito”. Sempre quiz estar no controle. Como foi uma coisa gradual, não percebi uma mudança na minha saúde depois que comecei a fumar. Mas depois que parei, consegui perceber. Uma das melhores coisas é não ficar com aquele odor insuportável, ou acordar com ressaca de cigarro. Quando estou estressada uso de 2 minutos de uma respiração longa, pois descobri que é isso que você faz quando fuma, e isso acalma. Você inspira e expirar bem devagar por uns 2 min. Você obtém o mesmo efeito respirando sem o cigarro. Por muito tempo certos lugares me davam uma vontade louca de fumar, hoje, extranhamente ainda tenho uma sensação de ter fumado ou o cigarro de algum forma me vem a cabeça se masco um trident verde, percebi que é porque eu mascava muito este trident pra tirar o bafo de cigarro, então hoje prefiro outros tipos, de alguma maneira não consegui me desvincular deste aprendizado. Mas é isso, fumei pouco mais de três anos e agora estou há uns 3 sem fumar. Estou feliz com minha decisão, com todos os malefícios do cigarro, hoje não vejo um motivo pelo qual eu voltaria, não sinto saudades. Esse foi o meu caminho, não é uma receita, cada pessoa é única, mas espero que meu caminho possa te ajudar a encontrar o seu. Mas na minha opinião,você só pode afirmar que não quer parar, se de fato entender por quê você começou e por quê se mantém.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Dicas para você curtir tranquilo o Universo Paralello

Convite de Casamento Rústico

Bolo arco-íris (colorido por dentro e um segredinho pra deixá-lo super macio)